O rei Luís XIV, o rei-sol, que governou uma nação poderosa, era extremamente preguiçoso para tomar banho. A história do rei que amava o perfume, mas odiava a água, tornou-se uma lenda que é ao mesmo tempo engraçada e surpreendente, mas totalmente verdadeira. O rei Luís XIV, com sua peruca encaracolada e manto de seda bordado com fios de ouro, sempre aparecia como um símbolo de perfeição.
Mas e a verdade? Historiadores registram que ele tomou banho apenas algumas vezes durante seus mais de 70 anos de reinado, e cada vez que tomava banho era uma batalha. Ele encontrava todas as razões possíveis para não tomar banho, como a água que nos faz sentir frio. Ele costumava ficar irritado quando os nobres sugeriam que ele se banhasse em uma banheira cheia de rosas. Dizem que ele tinha tanto medo de tomar banho que afirmava que isso o deixaria doente. Essa era uma crença comum na época, quando a medicina acreditava que a água poderia trazer doenças para o corpo. E não apenas o rei Luís XIV, muitos outros reis, rainhas e nobres na Europa naquela época também eram muito preguiçosos para tomar banho.
Em vez disso, o rei Luís escolheu uma maneira muito estranha de limpar o corpo, que era se limpar com um pano embebido em vinho ou borrifar perfume a ponto de encher o ambiente com o cheiro. O Palácio de Versalhes, embora magnífico, tinha que ser descrito como muito fedorento. Centenas de nobres e servos se espremiam em corredores apertados, e ninguém tomava banho regularmente. Se o próprio rei não tomava banho, como poderiam os outros? Os cantos das escadas estavam cheios de lixo e o cheiro do corpo, da comida sobrando, e até mesmo dos dejetos, já que banheiros de verdade quase não existiam, tornavam o ar no palácio muito fétido. O rei então ordenou que os servos borrifassem perfume por todo o palácio, desde as cortinas até os tapetes. Ele mesmo usava muitos frascos de perfume feitos de jasmim, lavanda e várias outras flores todos os dias.
Ele acreditava que se não pudesse tomar banho, o mundo inteiro deveria cheirar bem. Mas a falta de higiene do rei Luís não se limitava apenas à preguiça de tomar banho. Suas roupas íntimas, embora feitas de seda de alta qualidade, raramente eram lavadas. Os servos diziam que elas cheiravam tanto que precisavam ser trocadas constantemente, e a cada troca, eles tinham que borrifar mais perfume para disfarçar o odor. Sua peruca, que era essencial para mostrar seu poder, era um ninho de bactérias sob aqueles cachos elaborados, com cheiro ruim, sujeira e até piolhos. Mas o rei Luís não se importava. Ele só queria o cheiro. Ele mantinha uma equipe de perfumistas. Eram mestres na criação de perfumes. Eles estavam sempre de prontidão. Trabalhavam dia e noite, testando centenas de fórmulas para criar fragrâncias únicas que o fizessem sentir-se o rei mais perfumado do mundo.
Uma vez, durante uma audiência com embaixadores estrangeiros, um cheiro estranho se espalhou pela sala do trono. Os embaixadores, embora tentassem manter a compostura, começaram a tapar o nariz. O rei Luís percebeu o problema sem ficar constrangido. Ele imediatamente chamou um servo e pediu que trouxesse o frasco de perfume mais recente e ordenou que borrifassem por toda a sala. Este era o cheiro do poder. Ele riu alto, fazendo toda a corte rir junto. Mas por trás do sorriso, ele sabia que era hora de fazer algo maior.
Se tanto Versalhes quanto a França cheiravam mal como ele, a única maneira de transformar o perfume em um símbolo de toda a França. O rei Luís ordenou a expansão dos campos de flores na região de Valensole, onde o clima e o solo eram perfeitos para jasmim, lavanda e rosa. Ele investiu na construção de fábricas de perfumes, convidando os melhores artesãos para criar perfumes. Ele também organizou competições de criação, onde o vencedor recebia prêmios generosos. Ele queria que a França não fosse apenas forte, mas também cheirosa.
O resultado foi o surgimento dos primeiros frascos de perfume com a marca francesa, não apenas para reis e rainhas, mas também para a nobreza e, posteriormente, para toda a Europa. O perfume tornou-se um item de luxo, um símbolo de sofisticação e, o mais importante, uma maneira de as pessoas esquecerem de tomar banho. O povo também começou a imitar o rei. De Paris a províncias, as pessoas borrifavam perfume em vez de lavar suas roupas. As lojas de perfumes surgiram em todos os lugares e a profissão de perfumista tornou-se uma carreira popular. O rei Luís, embora ainda preguiçoso para tomar banho, foi quem lançou as bases para uma indústria com história na França. Ele se orgulhava ao ver embaixadores estrangeiros saindo de Versalhes com frascos de perfume como presentes, levando a fama do perfume francês ao redor do mundo.
Mas na verdade, ele também não foi o primeiro a usar perfume.
Na verdade, o perfume já era usado há milhares de anos, quando pesquisas sobre vestígios de hieróglifos em tumbas antigas foram descobertas, os arqueólogos perceberam que os egípcios e os babilônios usavam perfume há mais de 3000 anos. Os sacerdotes egípcios são considerados os pais do perfume, pois usavam resinas aromáticas para fins de adoração. Eles acreditavam que o perfume ajudaria a conectar a humanidade com o divino, e que o mundo seria mais protegido pelos deuses quando estivesse mais perfumado.
Os antigos gregos são considerados os primeiros a criar perfumes para uso humano, combinando plantas aromáticas com resina de pinho e óleos. Os gregos desenvolveram a técnica de massagem com óleos perfumados, que depois se tornou um produto de uso diário como hoje. Como mencionado, na época feudal, o perfume sempre foi um símbolo de riqueza e poder, especialmente para o rei da França, Luís XIV. E mais tarde, a França se tornaria o país pioneiro na produção de perfumes em máquinas e em linha de montagem durante a Revolução Industrial. A França há muito é vista como a capital do perfume mundial, o berço de marcas renomadas. O perfume francês tem uma história que se estende por séculos, começando na Idade Média.
No século XII, os monges em mosteiros na França usavam técnicas de destilação para criar óleos essenciais a partir de ervas, principalmente para fins medicinais. Esses perfumes eram usados para curar doenças ou purificar o ar nos palácios, onde a higiene era muito limitada. Com o tempo, esses perfumes tornaram-se um símbolo de sofisticação e luxo. Após a era do rei Luís e até o século XIX, este último marcou o surgimento das marcas de perfume mais famosas da França. E você sabe quais são essas marcas?
O primeiro perfume considerado moderno foi lançado em 1882. Este foi um marco importante que abriu caminho para a indústria de perfumes moderna. Era um perfume que combinava óleos essenciais naturais e compostos sintéticos. Grasse, uma pequena cidade que desempenhou um papel central no desenvolvimento da indústria de perfumes francesa, com seu clima mediterrâneo e solo rico em minerais, é o lugar ideal para cultivar flores preciosas como a rosa centifólia, a rosa de maio, o jasmim e o lírio. Essas flores são os principais ingredientes dos perfumes de alta qualidade. Aqui, as técnicas de extração de óleos essenciais foram aperfeiçoadas ao longo dos séculos.
O método tradicional, embora demorado e trabalhoso, ainda é usado para algumas flores sensíveis, como o jasmim. Além disso, as fábricas em Grasse também utilizam métodos de destilação a vapor e extração por solvente para obter óleos essenciais de alta qualidade. Por exemplo, para produzir 1 kg de óleo essencial de jasmim, são necessárias cerca de 8 milhões de flores de jasmim, o que equivale a colher manualmente cerca de 10 mil flores por hora durante a colheita. Isso explica por que os perfumes de alta qualidade são tão caros. Grasse não é apenas um local de produção, mas também um centro de formação de mestres perfumistas. Um perfumista precisa de cerca de 7 a 10 anos de treinamento para alcançar o nível de especialista, e há apenas cerca de 500 pessoas assim em todo o mundo, a maioria delas francesas.
O perfume francês não é apenas um produto, mas também uma obra de arte.
Os perfumistas, também conhecidos como criadores de fragrâncias, são comparados a compositores que criam sinfonias de aromas com três camadas principais: notas de topo, notas médias e notas de fundo. A técnica de produção de perfumes da região de Grasse foi reconhecida pela UNESCO como patrimônio cultural imaterial da humanidade, afirmando o papel único desta cidade na indústria de perfumes global. Um frasco de perfume pode conter de 50 a 300 ingredientes diferentes, incluindo óleos essenciais naturais, como rosa, sândalo e vários compostos sintéticos usados nos frascos de perfume.
Os perfumistas devem ser capazes de identificar milhares de aromas diferentes e combiná-los de forma harmoniosa. Eles não apenas precisam de um olfato aguçado, mas também de criatividade e amplo conhecimento em química. Eles trabalham em laboratórios de ponta, onde milhares de frascos de óleos essenciais são armazenados em condições rigorosamente controladas. Um perfumista pode identificar mais de 3000 aromas diferentes, enquanto o olfato de uma pessoa comum consegue distinguir cerca de 1000 aromas. O perfume francês é caro porque é comercializado como um símbolo de luxo. As campanhas publicitárias frequentemente usam imagens de estrelas famosas. A cada ano, a indústria de perfumes contribui com mais de 25 bilhões de euros para a economia francesa, gerando empregos para dezenas de milhares de pessoas, desde os agricultores que cultivam flores até os perfumistas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o perfume francês foi amplamente comprado pelos americanos em Paris para levar de volta como presente, ajudando a levar seu nome ao mundo. Assim, a França se tornou famosa por seus perfumes graças à combinação perfeita entre a história da arte da perfumaria e ingredientes de alta qualidade. Mas poucos sabem que, desde o palácio de Versalhes, cheio de odores desagradáveis, até as lojas de luxo na Avenida Champs-Élysées, o perfume francês passou por uma longa jornada.