Há mil anos, as especiarias não eram apenas algo para tornar a comida mais saborosa, mas sim um símbolo de poder, riqueza e até mesmo status social. Se hoje em dia as pessoas se gabam de carros de luxo ou mansões, na Idade Média na Europa, exibir uma mesa de banquete com carne bovina temperada com pimenta preta ou bolos polvilhados com canela era uma forma de demonstrar sofisticação.
Mas desde quando as especiarias têm esse apelo?
As especiarias são atraentes porque são raras. A maioria das especiarias saborosas, como pimenta, canela, cravo e noz-moscada, não podem ser cultivadas na Europa, não crescem na Europa, onde a nobreza se apaixonava por elas. Elas vêm de terras distantes como Índia, Indonésia, Sri Lanka ou Oriente Médio. Para obter especiarias, você precisa atravessar milhares de quilômetros, passar por desertos escaldantes, mares tempestuosos, enfrentar piratas, feras selvagens e até comerciantes intermediários que aumentam os preços em centenas de vezes. Em geral, para ter uma pitada de pimenta na mesa, as pessoas pagavam com suor, lágrimas e às vezes até sangue. E naquela época, a tecnologia de conservação de alimentos era rudimentar, sem geladeiras, sem máquinas de vácuo.
Especiarias como sal, pimenta ou gengibre não são apenas alimentos saborosos, mas também conservam alimentos e evitam que a carne estrague. Mesmo quando a comida começava a cheirar mal, as pessoas precisavam usar especiarias para mascarar o odor e tornar a comida ainda comestível. Além disso, as especiarias eram consideradas remédios. Os antigos acreditavam que a pimenta ajudava a curar dores de estômago, a canela melhorava a circulação e o cravo curava dores de dente. Embora a ciência tenha provado mais tarde que nem tudo isso era verdade, essa crença fez com que as especiarias se tornassem cada vez mais valiosas. Até mesmo em alguns rituais religiosos, especiarias como canela ou outras eram oferecidas aos deuses, pois seu aroma era considerado o perfume divino.
Falando em especiarias mais valiosas que ouro, não podemos deixar de mencionar o sal, que agora é tão barato. Mas há alguns mil anos, era um patrimônio nacional, o ouro branco da humanidade. O sal era tão importante que não era apenas uma especiaria, mas a base de civilizações.
Por que o sal é tão valioso?
É simples, sem sal, os seres humanos não podem viver. O sal é necessário para manter o equilíbrio de fluidos no corpo e é a única maneira de conservar alimentos em uma época sem tecnologia moderna. Para manter carne, peixe e vegetais durante o longo inverno, apenas o sal pode fazer isso. Uma sociedade sem sal é uma sociedade faminta. Na Roma antiga, o sal era tão valioso que as pessoas pagavam soldados com sal. Daí surgiu a palavra "salário", que vem de "sal", que significa sal em latim. Até mesmo havia estradas construídas apenas para transportar sal, chamadas de via Salaria, ou a estrada do sal.
Na África, as pessoas usavam blocos de sal sólido como moeda, trocando-os por ouro, marfim ou escravos. Na China, o imposto sobre o sal era uma importante fonte de receita para a dinastia e, em certos momentos, o preço do sal era mais alto que o do ouro. O sal nem sempre era fácil de encontrar. Em regiões costeiras, as pessoas podiam destilar sal ou extrair sal da água do mar. Mas em áreas remotas e distantes, o sal tinha que ser extraído de minas ou extraído de águas subterrâneas, um processo extremamente trabalhoso. As minas de sal, como as da Polônia ou da Áustria, tornaram-se verdadeiros tesouros nacionais, protegidos rigorosamente.
Algumas minas de sal até tinham capelas subterrâneas esculpidas em sal, tão belas quanto uma maravilha. Uma história interessante sobre o sal surgiu em Veneza, na Itália. Esta cidade enriqueceu com o comércio de sal a ponto de construir um palácio com o dinheiro do sal. Mas também por causa do sal, Veneza entrou em guerra com outras cidades-estado para controlar as minas de sal. Até mesmo no século XIV, quando o suprimento de sal foi interrompido, o preço do sal na Europa disparou, causando inflação e instabilidade social. Em geral, o sal não é apenas uma especiaria, mas um fator que mudou a história.
Se o sal é o ouro branco, a pimenta é o ouro negro.
Na Idade Média, a pimenta preta era tão cara que as pessoas a usavam para pagar aluguel, como dote, e até contavam cada grão como se fossem moedas. Um pequeno saco de pimenta preta poderia comprar uma vaca inteira e, em alguns lugares, seu preço era equivalente ao do ouro. A pimenta preta tem um apelo especial porque é versátil. Não é apenas um alimento saboroso, mas também é considerada um remédio. As pessoas da época acreditavam que a pimenta ajudava a curar dores de estômago, melhorava a digestão e até aumentava a força masculina.
Além disso, a pimenta é fácil de conservar, fácil de transportar e pode ser usada em todos os pratos, desde sopas, carnes grelhadas até doces. Em geral, a pimenta é o rei das especiarias. E no século V, quando os visigodos sob a liderança de Alarico atacaram e cercaram Roma, para garantir a paz, Roma teve que pagar um resgate colossal que incluía ouro, prata, seda e estima-se que centenas de quilos de pimenta. A pimenta preta não era apenas uma especiaria, mas também um ativo estratégico equivalente a ouro e prata.
Além do sal e da pimenta, há outras especiarias tão valiosas quanto ouro, como canela, cravo e noz-moscada.
Essas especiarias não são apenas caras por serem raras, mas também estão ligadas a histórias míticas que aumentam seu valor. Naquela época, os europeus não sabiam exatamente de onde vinham as especiarias. Os comerciantes árabes, que controlavam as rotas comerciais de especiarias, costumavam contar histórias fantásticas para aumentar seu valor. Eles diziam que a canela era colhida de ninhos de pássaros gigantes em penhascos, e só podia ser colhida atraindo os pássaros para trazer a canela, ou que o cravo só crescia em ilhas guardadas e que os colhedores arriscavam suas vidas. Essas histórias podem parecer exageradas, mas tornaram as especiarias misteriosas e deixaram a nobreza fascinada.
A canela já foi um símbolo de luxo.
No Egito antigo, a canela era usada para embalsamar corpos, pois seu aroma era considerado sagrado, conectando-se com o mundo dos mortos. Na Europa, a canela era tão cara que apenas reis e rainhas se atreviam a usá-la. Um pequeno pedaço de canela poderia ser trocado por um bom cavalo. Há até uma lenda de que uma rainha presenteou o rei Salomão com toneladas de canela para mostrar sua riqueza. O cravo e a noz-moscada eram ainda mais caros, pois só cresciam em algumas pequenas ilhas na Indonésia, que podemos chamar de ilhas das especiarias.
O cravo, com seu aroma forte e propriedades desinfetantes, era usado para curar dores de dente, fazer perfumes e até afastar espíritos malignos. A noz-moscada era considerada um remédio milagroso, com a crença de que poderia curar a peste, embora na realidade não fosse assim. Devido à oferta limitada, seus preços dispararam e, no século XVI, um quilo de noz-moscada na Europa poderia comprar uma casa inteira. A história louca é que, em meados do século XVII, os holandeses trocaram a ilha de Manhattan, que agora é o centro de Nova York, por uma pequena ilha na Indonésia que cultivava noz-moscada.
Naquela época, os holandeses pensavam que estavam lucrando, pois a noz-moscada valia muito mais do que um pedaço de terra desabitada na distante América. Quem diria que, algumas centenas de anos depois, Manhattan se tornaria o centro financeiro do mundo? Realmente, a história tem suas surpresas. As especiarias eram tão valiosas que surgiu uma rota chamada a rota das especiarias. A jornada que levava especiarias do Oriente para o Ocidente. Esta não era apenas uma rota comercial, mas também uma rota de ambição, guerra e exploração. Era como a rota do petróleo hoje. Naquela época, as especiarias eram transportadas por duas rotas principais: a rota da seda marítima e a rota da seda terrestre. Ambas eram perigosas e mortais.
Em terra, os comerciantes tinham que atravessar desertos e a cordilheira do Himalaia, enfrentando ladrões, feras selvagens e condições climáticas extremas. No mar, eles tinham que lutar contra tempestades, piratas e doenças como a falta de vitamina C. Muitos perderam a vida, mas a recompensa era digna. Uma carga de especiarias bem-sucedida poderia transformar um comerciante comum em um milionário da noite para o dia. Mas a rota das especiarias também era marcada por sangue e lágrimas.
Os comerciantes árabes, os venezianos e, mais tarde, os portugueses, holandeses e ingleses disputaram o controle das rotas comerciais. Eles construíram fortalezas, tomaram ilhas e até massacraram os nativos para monopolizar as especiarias. No século XVII, os holandeses quase exterminaram toda a população da ilha de Banda para controlar a noz-moscada. Essa obsessão por especiarias levou à era das descobertas. Cristóvão Colombo, ao atravessar o Atlântico em 1492, na verdade não estava apenas em busca da América.
Ele queria encontrar uma nova rota marítima para a Índia para comprar especiarias mais baratas, quebrando o monopólio dos árabes e dos venezianos. Embora Colombo não tenha encontrado especiarias, ele abriu uma nova era. Da mesma forma, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e muitos outros exploradores também foram impulsionados pela sede de especiarias. Isso mostra que as especiarias não eram apenas mercadorias, mas um motor para mudar o mundo.
As especiarias não são apenas mercadorias, mas também a causa de guerras
Um exemplo típico é a guerra das especiarias entre os holandeses e os portugueses no século 1617. Esses dois países lutaram ferozmente pelo controle das ilhas que cultivavam cravo e noz-moscada na Indonésia. Os holandeses acabaram vencendo, mas a um custo de milhares de vidas, dezenas de navios e a devastação de muitas ilhas. Eles fundaram a Companhia Holandesa das Índias Orientais, a primeira empresa do mundo a ter ações e usaram isso para monopolizar o comércio de especiarias.
A companhia era tão poderosa que tinha seu próprio exército, navios de guerra e o direito de declarar guerra a qualquer um que ousasse interferir. As especiarias também influenciaram a política na França do século XVIII, onde os altos impostos sobre o sal levaram o povo a se revoltar, contribuindo para a Revolução Francesa. Na Índia, Gandhi liderou a marcha do sal em 1930 para protestar contra o imposto sobre o sal dos colonizadores britânicos. Em geral, as especiarias não são apenas um prazer à mesa, mas um fator que abalou o mundo. As especiarias já foram ouro, mas agora não são mais ouro. Elas se tornaram algo comum. Há várias razões que fizeram as especiarias se tornarem comuns. Quando os europeus conquistaram as terras que cultivavam especiarias na Índia, Indonésia ou Sri Lanka, começaram a plantar em grande escala.
As plantações de pimenta, canela e cravo surgiram em todo lugar, fazendo a oferta disparar. Se não eram raras, tornaram-se menos valiosas, e hoje, com navios mais modernos, bússolas e mapas mais precisos, rotas marítimas mais seguras, os custos de transporte de especiarias diminuíram drasticamente, e especialmente com a chegada de geladeiras, máquinas de vácuo e métodos modernos de conservação. O papel das especiarias na conservação de alimentos diminuiu. As pessoas não precisavam mais de sal ou pimenta para manter a carne durante o inverno. A demanda também mudou. A nobreza começou a buscar outras coisas, como açúcar, café, chá e chocolate.
As especiarias quase perderam seu simbolismo. Com o desenvolvimento do comércio global, as especiarias não eram mais mercadorias exclusivas de alguns países. Qualquer país poderia cultivar pimenta ou canela em seu próprio quintal. No século XIX, as especiarias tornaram-se algo que qualquer um poderia comprar, mas seu legado ainda permanece. Cidades ricas como Veneza, Andam e Lisboa surgiram graças às especiarias. Empresas gigantes como as Índias Orientais Holandesas também começaram com a febre das especiarias. Até mesmo o mapa do mundo como o conhecemos hoje, com a América e as rotas marítimas, foi desenhado graças às expedições em busca de especiarias.