A batata hoje se tornou uma das culturas alimentares mais importantes do mundo. O prato de batata se tornou um símbolo global, como as batatas fritas associadas aos Estados Unidos, Bélgica ou França. O purê de batata é um prato indispensável nas refeições ocidentais. Batatas cozidas, assadas e sopas são populares em toda a Europa e na América Latina. O McDonald's consome mais de 3 milhões de toneladas de batatas apenas para suas batatas fritas.

Na Europa, a batata é um alimento nacional. Na Ásia, a batata também é um alimento básico em muitas regiões montanhosas. A África está cultivando cada vez mais batatas como uma solução para combater a pobreza. A batata ajudou a Europa a escapar da fome há muitos séculos. Um americano consome em média quase 50 kg de batatas por ano. A vodka, a bebida nacional da Rússia e da Polônia, pode ser destilada a partir de batatas. A batata foi a primeira cultura alimentícia cultivada no espaço.

Mas você consegue acreditar? A batata já foi chamada de maçã do diabo, proibida de ser cultivada e usada apenas para alimentar porcos.

É verdade. A verdade nos leva de volta à história da Europa nos séculos 16 e 17, uma época em que tudo girava em torno da Bíblia. De repente, uma batata enrugada e estranha apareceu. Ela não cresce de sementes como o arroz, o trigo ou o milho, mas da própria raiz. Enterre uma batata no chão e você terá uma planta. Corte-a em quatro e você terá quatro plantas. As pessoas olhavam e ficavam horrorizadas com sua estranheza. E a Igreja Católica declarou: "A batata não está na Bíblia, Deus não quer que comamos." Porque antes disso, a Europa não tinha batatas. A realeza francesa proibiu o cultivo de batatas, permitindo apenas seu uso como alimento para porcos. Porcos, você ouviu certo, não se enganou.

Diziam até que a batata causava lepra, uma doença que deformava a pele, parecendo exatamente como uma batata enrugada. Alguns cientistas descobriram que a batata pertence à família das solanáceas, que inclui a beladona, e assim afirmaram ainda mais que a batata era venenosa e não deveria ser comida. Algumas pessoas tentaram comer, mas acabaram ingerindo batatas brotadas. E assim, foram envenenadas. Isso reforçou ainda mais a ideia de que a batata era a maçã do diabo. O filósofo francês Denis Didros, na famosa Enciclopédia, chegou a escrever de forma contundente: "A batata é apenas para os famintos." Mas como ela fez essa jornada até nossas mesas hoje? Uma jornada milagrosa.

Voltemos milhares de anos atrás, na cordilheira dos Andes na América do Sul, a montanha mais longa do planeta e também muito severa, onde a batata foi descoberta. Os incas, um povo muito inteligente, domesticaram a batata a partir de plantas selvagens. Eles a transformaram em alimento principal, venerando-a como uma divindade. Arqueólogos encontraram cerâmicas em forma de batata datadas de 400 anos antes de Cristo, e a batata também foi enterrada com os mortos há milhares de anos. Graças à batata rica em amido, os incas construíram um império poderoso com templos magníficos e cidades repletas de ouro.

Eles usavam a batata como moeda, cobravam impostos em batatas, armazenavam em celeiros, distribuíam para soldados, artesãos e até escravos. Eles também inventaram uma forma de congelar batatas, chamada de "congelamento" ao secar as batatas sob o frio dos Andes, ajudando a preservá-las anualmente sem perder muitos nutrientes. No século 16, a tragédia atingiu os incas.

Os espanhóis, liderados por Francisco Pizarro, desembarcaram na terra que hoje é o Peru. Eles roubaram ouro e prata, capturaram o rei inca e destruíram o império. No meio do saque, eles jogaram algumas batatas no barco. Eles chamavam a batata de trufa porque parecia enrugada e coberta de lama. Quem diria que algo tão desprezado se tornaria mais valioso que ouro depois? Segundo historiadores, os espanhóis roubaram ouro e prata equivalentes a uma montanha de dinheiro hoje. Mas a batata era o verdadeiro tesouro que eles não perceberam. Quando a batata chegou à Europa, não recebeu um abraço caloroso de boas-vindas.

Na Espanha, Itália, França, Alemanha, Inglaterra e na República da Islândia, todos a olhavam com desconfiança. As pessoas tentaram cultivá-la, mas apenas para alimentar porcos. Alguns botânicos perceberam que a batata pertencia à família das solanáceas, que inclui a beladona. Assim, a batata foi proibida de ser cultivada ou apenas permitida em jardins botânicos para pesquisa. O povo, temeroso, a chamava de maçã do diabo devido à sua forma estranha de crescer e à crença de que a batata poderia causar doenças. A Europa naquela época estava mergulhada em fome. Do século 16 ao século 19, a França sofreu mais de 40 grandes fomes. A Inglaterra também não estava melhor, com 17 fomes em menos de 100 anos. O trigo falhou, as pessoas estavam famintas e essa foi a oportunidade para a batata ser notada. Ela é fácil de cultivar, não precisa de solo muito bom, não requer muitos cuidados, é saborosa e fácil de preparar.

Mas como fazer o povo comer algo que eles chamavam de comida de porco?

A primeira pessoa a perceber o potencial da batata foi Frederico, o Grande da Prússia. No meio do século 18, ele promulgou uma lei sobre a batata, obrigando o povo a cultivá-la para comer. Mas o povo prussiano era muito teimoso e não queria obedecer. Frederico então pensou em uma estratégia muito astuta. Ele plantou batatas em sua fazenda real perto de Berlim e colocou guardas para protegê-las, mas intencionalmente deixou o povo entrar para pegar as batatas. As pessoas acreditavam que algo bem protegido era muito valioso. Assim, à noite, elas se esgueiravam para roubar batatas, enquanto os soldados faziam vista grossa. As batatas eram vendidas no mercado negro. Em pouco tempo, as batatas se espalharam por toda a Prússia, salvando o povo durante as temporadas de fome.

Graças à batata, o exército prussiano se tornou forte, derrotando as forças combinadas da Áustria e da França na Guerra dos Sete Anos, no meio do século 18. E foi nessa guerra que um francês chamado Antoine Augustin Palmier mudou o destino da batata em sua terra natal. Palmier era um farmacêutico e também um médico militar. Ele foi capturado pelos prussianos durante a guerra. No campo de prisioneiros, ele comeu batatas e achou que eram saborosas, não venenosas e ainda nutritivas. Após ser libertado e retornar à França, ele decidiu reabilitar a batata. Ele pesquisou e descobriu que batatas que não brotavam eram muito seguras para comer, mas como fazer os franceses aceitarem comer. Palmier seguiu a estratégia de Frederico na Prússia. Ele plantou batatas e fez soldados fingirem ser guardas para que o povo pudesse entrar e roubar.

Mas ele foi ainda mais audacioso. Ele convenceu cientistas, nobres e até a realeza. Ele presenteou flores de batata roxa ao rei Luís 16 e à rainha, que as colocaram em seus cabelos. Palmier também pediu terras reais em Versalhes para cultivar batatas, escreveu um manual sobre o cultivo de batatas e distribuiu milhares de cópias por toda a França. Ele publicou um livro de receitas com 20 receitas, incluindo como fazer batatas fritas. Graças a Palmier, a batata se tornou o salvador da França. Antes disso, as colheitas falhavam e a fome era constante.

Em média, a cada 7 anos, a França enfrentava uma fome nacional. Mas a batata, fácil de cultivar, fácil de armazenar e rica em energia, resolveu o problema alimentar. Na época de Napoleão, a batata foi incentivada a ser cultivada em todos os lugares. Os países aliados e até os inimigos da França também seguiram o exemplo. No final das guerras napoleônicas, no início do século 19, a batata se tornou o prato principal dos europeus. A batata não apenas salvou o povo da fome, mas também mudou a história.

De acordo com estudos de Harvard, a batata contribuiu com cerca de 23 a 24% do crescimento populacional e cerca de 27 a 34% da urbanização na Europa nos séculos 18 e 19, bem como no início do século 20. A população europeia disparou. Na Islândia, 40% da população se alimentava apenas de batatas, e a população dobrou entre a segunda metade do século 18 e a metade do século 19, alcançando 8 milhões de pessoas. A batata também sustentou a força de trabalho, impulsionou a revolução industrial e forneceu força para os exércitos.

A seguir, alguns fatos interessantes sobre a batata.

A batata e a Guerra Fria. A batata foi uma arma de propaganda durante a Guerra Fria. A União Soviética exibiu sua enorme produção de batatas para provar sua superioridade. Enquanto isso, os Estados Unidos promoviam as batatas fritas como um símbolo da cultura ocidental. Como resultado, a batata foi consumida em todo lugar e as batatas fritas se tornaram um prato global, presente em todos os fast foods. A batata também tem planos de ir a Marte. A NASA experimentou cultivar batatas em um ambiente simulado de Marte no Peru. Com solo árido e condições climáticas severas, a batata ainda prosperou, provando que pode ser uma cultura alimentar para os humanos em outros planetas. A batata também está relacionada à migração.

A batata foi o salvador da república da Islândia, mas também causou desastres. No meio do século 19, uma praga devastou a colheita de batatas, levando a uma grande fome. Mais de 1 milhão de pessoas morreram e milhões migraram para os Estados Unidos e Canadá. Esta é uma lição sobre o risco de depender demais de uma única cultura. Falando sobre a diversidade da batata, o mundo tem mais de 4000 variedades de batatas com cores variadas, roxas, vermelhas, amarelas e verdes. As pessoas cruzaram centenas de variedades para se adaptar ao ambiente dos Andes. Hoje, a batata é uma das principais culturas alimentares do mundo, apenas atrás do arroz, milho e trigo. Na indústria, a batata não é apenas alimento, mas também é usada para produzir vodka, amido e até plásticos biodegradáveis. Uma batata é extremamente versátil. Isso é algo que poucos imaginam.

Falando sobre os recordes relacionados à batata. De acordo com o livro dos recordes Guinness, a batata mais pesada do mundo pesava 10,86 kg e foi cultivada na Inglaterra em 2021. A batata frita mais longa registrada tinha 86 cm e foi feita na Bélgica em 2019. Atualmente, a Europa produz cerca de 52 milhões de toneladas de batatas por ano, sendo 8 milhões apenas na França. A batata é uma cultura fundamental em mais de 100 países, alimentando bilhões de pessoas. Não é apenas alimento, mas também um símbolo de resistência, adaptabilidade e poder de mudar a história.

De uma batata chamada maçã do diabo, proibida e usada apenas para alimentar porcos, a batata se tornou um super-herói que salvou a Europa da fome, impulsionou a revolução industrial e ajudou países a se tornarem impérios ao alimentar enormes exércitos. Ela também aspira a conquistar Marte, inspirar a arte e se tornar um prato global. A história da batata é uma prova de que, às vezes, aquilo que é desprezado é um tesouro que ninguém percebe.

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