Há quem diga que a Ucrânia está tentando apagar a memória de um período que moldou seu país, até mesmo negando as conquistas deixadas pela União Soviética. Até os cemitérios compartilham o mesmo destino. Antes de entrar em detalhes, precisamos entender que a União Soviética foi uma parte muito grande da história da Ucrânia. De 1922 a 1991, a Ucrânia foi uma república na federação soviética e, durante essas sete décadas, o país passou por muitas oscilações. A União Soviética, com tudo o que representa, deixou uma marca profunda na Ucrânia, tanto positiva quanto negativa.
Durante a época soviética, a Ucrânia recebeu um forte investimento industrial. Fábricas gigantes, zonas industriais em Donbas e Kharkiv transformaram a Ucrânia em um importante centro de produção. Em termos de agricultura, a Ucrânia era chamada de celeiro da União Soviética, fornecendo produtos agrícolas para todo o bloco. O sistema de educação, saúde gratuita e oportunidades de emprego estáveis também são coisas que o povo ucraniano, especialmente no leste, ainda se lembra e às vezes sente saudade. As grandiosas obras arquitetônicas, as estátuas de Lênin e as casas de cultura com forte influência soviética ainda permanecem em muitas cidades. Por trás dessas conquistas, no entanto, estão feridas profundas.
Durante a época soviética, a Ucrânia teve que suportar muitas políticas severas, especialmente sob o governo de Stalin. A fome Holodomor de 1932 a 1933 é um exemplo doloroso. Milhões de ucranianos morreram de fome. Quando a União Soviética se desintegrou em 1991, a Ucrânia se tornou independente. Este foi um marco histórico em todo o país, de Kiev a Odessa. Ainda há muitas estátuas de Lênin. Ruas com nomes de líderes e sinais, símbolos de tempos passados. Nos primeiros anos de independência, a Ucrânia não foi realmente enérgica em eliminar o legado soviético, em parte porque a sociedade ainda estava dividida. No oeste, onde as pessoas têm um forte espírito nacional, elas queriam romper completamente com a União Soviética.
Mas no leste, onde muitas pessoas falam russo, ainda sentem uma conexão com o passado soviético, especialmente em termos econômicos e culturais. Em 2014, a Ucrânia passou por um evento chocante da revolução Maidan. Você pode imaginar isso como uma grande tempestade que abalou todo o país. A situação começou quando o presidente Yanukovych se recusou a assinar um acordo de cooperação com a União Europeia e se aproximou mais da Rússia.
Isso deixou milhões de ucranianos, especialmente os jovens, indignados, e eles foram às ruas na Praça Maidan, na capital Kiev, exigindo um futuro voltado para a Europa, longe da sombra da Rússia e do legado soviético. Após Maidan, a Rússia anexou a Crimeia e apoiou as forças separatistas no Donbass. Esses eventos foram como jogar mais lenha na fogueira, e os ucranianos se tornaram ainda mais determinados a romper todos os laços com a Rússia e o legado soviético, que consideram um símbolo de controle de Moscovo. É nesse contexto que o movimento Leninopat, ou a queda de Lenin, surgiu.
Uma série de estátuas de Lenin foram derrubadas e destruídas em todo o país. Essas imagens se espalharam pelo mundo e, para algumas pessoas, especialmente na Rússia ou no leste da Ucrânia, isso é um sinal de ingratidão. Eles acreditam que a Ucrânia está destruindo os símbolos de uma época que lhes trouxe indústria, educação e estabilidade.
Em 2015, a Ucrânia aprovou uma legislação. Esta lei proíbe o uso de símbolos, incluindo sinais, monumentos e nomes de ruas relacionados à União Soviética. Milhares de estátuas de Lenin foram removidas. As ruas nomeadas em homenagem a líderes foram renomeadas em homenagem a heróis nacionais ucranianos. A Praça Lenin em Kiev foi renomeada para Praça da Liberdade, e os sinais de antigamente nos edifícios também foram removidos. Do ponto de vista dos críticos, isso é um ato de esquecer o passado. Eles acreditam que, embora a União Soviética tenha cometido erros, ela contribuiu muito para a Ucrânia, desde a modernização da economia, construção de infraestrutura até ajudar a União Soviética, incluindo a Ucrânia, a vencer na Segunda Guerra Mundial.
A remoção desses símbolos, incluindo as histórias relacionadas aos soldados do Exército Vermelho, é uma forma de a Ucrânia negar essas conquistas. Como se estivessem apagando a história para reescrever uma versão que apenas os beneficie. Se Maidan foi a chama que despertou o espírito nacional, a operação militar especial da Rússia e da Ucrânia em 2022 foi um terremoto que acelerou o processo de eliminação do legado soviético a um novo patamar. Desde 2022, as cidades ucranianas têm continuamente substituído os monumentos soviéticos por novos símbolos.
Em Kharkiv, uma estátua de Lenin foi substituída por um memorial aos soldados ucranianos. Em Odessa, uma cidade que historicamente tem laços com a Rússia, os símbolos soviéticos também foram removidos. Até mesmo os monumentos da Segunda Guerra Mundial, que foram mantidos por seu valor histórico, estão sendo reavaliados se carregam muitos traços soviéticos. Do ponto de vista crítico, isso pode ser visto como ingratidão, pois apaga as memórias da vitória comum da União Soviética, que inclui os ucranianos. Muitas pessoas, especialmente na Rússia ou em áreas pró-Rússia, acreditam que a Ucrânia está negando o papel da União Soviética na libertação da Europa, incluindo a própria Ucrânia.
Outra grande razão pela qual a Ucrânia está eliminando o legado soviético é que eles estão se voltando para um futuro ligado à Europa.
A Ucrânia alcançou o objetivo de se juntar à UE e à OTAN, e para fazer isso, eles precisam construir uma imagem nacional moderna, ou melhor, precisam conquistar a simpatia do Ocidente. Mas do ponto de vista dos críticos, isso é visto como uma desculpa. Eles acreditam que a Ucrânia está intencionalmente "limpando" a história para agradar ao Ocidente, enquanto ignora as contribuições da União Soviética. Algumas obras, como monumentos ou construções com valor histórico e artístico, em vez de serem destruídas, eles sugerem que esses legados sejam levados a museus para educar as futuras gerações sobre um período complexo da história.
A destruição total pode ser vista como uma forma de apagar a história, perdendo a oportunidade de olhar para o passado de forma objetiva. Há também outra perspectiva, a dos mais velhos, que viveram na época soviética. Para eles, as estátuas e as construções soviéticas não são apenas símbolos, mas também memórias pessoais de dias de escola, trabalho ou até mesmo momentos felizes em família em uma sociedade que eles costumavam considerar estável. Quando esses símbolos são destruídos, algumas pessoas sentem que uma parte de sua infância, uma parte de suas memórias foi apagada.
Eles não necessariamente amam o antigo regime, mas amam o que aquele período representava em suas vidas pessoais. Portanto, quando se diz que a Ucrânia é ingrata ou esquece o passado, devemos entender que nem todos na Ucrânia concordam com a eliminação dos legados soviéticos. Essa divisão reflete uma Ucrânia diversa, onde cada região e cada geração tem uma visão diferente da história. É preciso reconhecer que a eliminação do legado soviético às vezes causa grandes perdas. As construções da era soviética, sejam políticas ou não, também são parte da história.
Algumas pessoas acreditam que, em vez de destruir, a Ucrânia poderia transformá-las em lições de história, como a Alemanha fez ao preservar alguns vestígios da era socialista para educar sobre o passado. A destruição total pode fazer algumas pessoas sentirem que a Ucrânia está intencionalmente reescrevendo a história apenas para manter o que é conveniente para si. Se você olhar do ponto de vista das pessoas do leste da Ucrânia ou dos nostálgicos da era soviética, pode ver que a destruição de monumentos ou a mudança de nomes de ruas é uma forma de negar as conquistas do passado.
Para eles, isso é parte da memória, parte da vida que eles viveram, e apagá-la é como um insulto. Assim, passamos por uma história desde os dias em que a Ucrânia ainda era parte da União Soviética até a revolução Maidan, a guerra com a Rússia e o polêmico processo de descomunização.