Memórias de uma geração de velhos cantonenses - Parque Cultural

Quando eu era criança, minha família costumava me levar ao Parque Cultural para brincar, que realmente era o lugar mais movimentado no coração da cidade de Guangzhou. Assim que entrava no portão do parque, o barulho me envolvia. O palco central era o coração do parque, onde os tambores e cordas quase nunca paravam durante todo o ano, com ópera cantonesa, acrobacias e danças se revezando, e a plateia estava cheia de pessoas, com uma grande quantidade de gente em pé atrás, todos balançando grandes leques de palmeira, sem conseguir piscar os olhos.

No parque, as exposições estavam uma ao lado da outra, como vizinhos sentados em fila. Eu adorava ir ao museu de produtos do mar - nós, os velhos cantonenses, costumávamos chamá-lo de "aquário". Ao entrar, um enorme esqueleto de baleia pendurado no teto, com a boca aberta de forma assustadora, parecia querer engolir todo o céu. Dentro das vitrines, havia peixes de profundidade de mil formas e tamanhos, com luzes suaves refletindo as escamas de peixes desconhecidos que brilhavam de forma fantasmagórica. Sempre que ia, eu me encostava ao vidro e olhava por um bom tempo, como se aquelas luzes fantasmagóricas realmente pudessem me puxar para as profundezas do mar, para explorar aqueles mistérios silenciosos.

Ao lado, havia um "estúdio de aluguel", cheio de esculturas de barro. Aqueles camponeses feitos de barro tinham expressões de sofrimento, como se fossem forçados a pagar aluguel pelos senhores de terras, com rugas profundas e severas, e o desespero em seus olhos parecia perfurar a alma. Eu era muito jovem e só sentia que o desespero cinzento nos rostos de barro pesava em meu coração, me deixando inquieto, e eu não ousava olhar por muito tempo. Aquela argila silenciosa, de fato, gravou a palavra "sofrimento" em meu coração muito antes de muitos livros didáticos.

Na adolescência, uma vez fui com meu amigo Amin assistir à ópera cantonesa "A Mensagem de Liu Yi". A roupa brilhante da Dragão e da Terceira Senhora brilhava sob as luzes, ofuscando os olhos, e ela cantava com lágrimas em cada palavra, de forma suave e triste. Eu e Amin estávamos espremidos na multidão, na ponta dos pés esticando o pescoço, lamentando não sermos mais altos. As luzes do palco estavam tão quentes que faziam a gente suar, e as roupas grudavam no corpo, mas ninguém queria sair. Quando a peça terminou, minha garganta estava rouca de tanto cantar, mas meus passos eram leves, meu coração cheio das alegrias e tristezas da peça, e ao voltar para casa, a luz da lua parecia tingida pelas palavras da peça, especialmente clara e um pouco triste.

Depois, quando comecei a trabalhar, minha colega Zhen me levou ao Parque Cultural para aprender a andar de patins - que é como andar de patins no gelo. A pista de patinação estava em um canto do parque, e o chão era tão escorregadio que parecia ter sido untado com óleo. Eu me segurei no corrimão, com os pés tremendo como folhas de árvore no vento de outono, sem coragem de soltar as mãos. Zhen já estava deslizando com facilidade, dando uma volta e rindo de mim: "O que você tem medo? Se cair, é só comer um pouco de poeira!" Assim que ela terminou de falar, eu me assustei e realmente caí pesadamente no chão, fazendo meus ossos vibrarem. Zhen estava rindo tanto que se curvava, enquanto eu estava com dor, mostrando os dentes e tentando me levantar, mas os patins pareciam ter raízes, não obedecendo, escorregando cada vez mais, parecendo um besouro desajeitado lutando. A dor e a vergonha, agora que penso, se tornaram uma lembrança doce com um toque de sal.

Com o passar dos anos, até mesmo assuntos de vida e morte foram organizados no Parque Cultural. Uma vez, em um "encontro" no parque, a outra pessoa era um médico. Para parecer culto, ele me levou a ver uma exposição de arte no parque, caminhando de mãos para trás em frente a cada pintura, com a testa levemente franzida, murmurando palavras, avaliando a técnica e a profundidade. Na verdade, naquela época, eu não sabia nada sobre arte. Eu olhei furtivamente para o texto ao lado da pintura, meu coração batendo rápido, com medo de que ele fizesse perguntas profundas. Ele parecia muito sério, parando em uma pintura abstrata de cores vibrantes, balançando a cabeça e dizendo: "Hmm, esta pintura tem um significado profundo, com um toque de Picasso." Deus sabe que no canto inferior direito da pintura estava claramente assinado com um nome em chinês! Naquele momento, eu só achava que ele estava se fazendo de importante, e só depois percebi que essa espécie de pretensão era a resposta que os jovens daquela época queriam dar diante da questão do Parque Cultural.

Naquela época, o Parque Cultural era realmente a grande sala de estar dos cantonenses. Vizinhos e amigos levavam suas famílias, e durante o festival das lanternas, as pessoas se amontoavam, com as lanternas iluminando rostos sorridentes; na noite do Festival da Lua, o parque estava cheio de gente, olhando para a lua, com as lanternas brilhando por todo o parque, risadas e conversas, quase ofuscando a luz da lua no céu. Ao redor do tabuleiro de xadrez, sempre havia uma multidão, assistindo os mestres jogarem, as jogadas silenciosas, mas intensas. As histórias contadas soavam como um sino, com trechos de "Romance dos Três Reinos" e "Water Margin", fazendo as pessoas prenderem a respiração, até mesmo os vendedores de picolés esqueciam de gritar... Agora, ao passar pela Rua Xidi Erma, o contorno do Parque Cultural ainda está lá, a exposição de crisântemos no outono continua a ser um mar de flores e multidões, a agitação não diminuiu com o passar dos anos, e nos dias normais, as pessoas se esticam no parque logo de manhã, amigos jogando xadrez sob as árvores, vivendo de forma tranquila e relaxada, mas aqueles pavilhões, pistas de patinação e palcos cheios de risadas, surpresas, suor e preocupações desajeitadas já foram silenciosamente apagados pelo tempo, trocados por novas vestes.

Sempre que passo, meu olhar não consegue evitar de espiar para dentro. Aqueles pavilhões desaparecidos parecem acender luzes em meu coração: o brilho azul do museu de produtos do mar, a sombra pesada das esculturas de barro do estúdio de aluguel, o barulho ensurdecedor dos tambores do palco central, o som estridente da patinação na pista... Eles ainda estão lá, revelando-se na sala escura da minha memória. Um velho cantonense que passa por aqui sempre sente um leve toque dos sons que se foram - o som dos tambores do palco central ainda está em meus ouvidos, o velho eu, rindo ao ver minha própria forma distorcida diante do espelho... Tudo isso ainda vive naquele lugar tão movimentado, como o vapor quente de um restaurante de chá fervendo.

Glossário de termos em dialeto cantonense:

1.  **中意**: gostar
2.  **顶中意**: gostar muito
3.  **睇**: ver
4.  **乜嘢**: o que
5.  **怕乜嘢呀**: tem medo de quê?
6.  **跌落地**: cair no chão
7.  **食啖尘**: literalmente "comer poeira", refere-se a cair, estendendo-se para significar não se importar, uma pequena coisa
8.  **雪屐**: patins (termo antigo)
9.  **相睇**: encontro
10. **有墨水**: ser culto, ter conhecimento
11. **装模作样**: fazer pose, fingir
12. **得紧**: muito (indica um grau profundo)
13. **街坊**: vizinhos, comunidade
14. **心口窝**: posição do coração, metáfora para o centro, área central
15. **密密匝匝**: descreve uma grande aglomeração

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