O Edifício do Sul, para mim, não é apenas um prédio simples. Ele carrega a vida do meu avô, as memórias da minha juventude e, mais do que isso, é como uma semente que germina no meu sangue, tornando-se uma marca única de Guangzhou.
Segundo minha mãe, meu avô trabalhava como contador em uma empresa de tabaco dentro do Sul (como nós, os velhos guangzhouenses, carinhosamente o chamamos) antes da libertação. Essa história se tornou o elo mais distante e resistente entre nossa família e essa magnífica construção. Minha mãe disse que naquela época o Sul era o "arranha-céu" de Guangzhou, erguendo-se à beira do rio, sem nenhum edifício que pudesse ofuscar sua postura orgulhosa em relação ao Rio das Pérolas. Meu avô vestia sempre uma longa camisa antiga bem passada ou um terno semi-novo, segurando uma pasta de couro polida, e entrava pela imponente porta, cercado pelo aroma do tabaco, enquanto seus dedos dançavam nas contas do ábaco — o som do "clique-clique" era a música que sustentava nossa família, e se tornou a primeira sombra que eu imaginei do Edifício do Sul, uma sombra impregnada de fumaça e brilho dourado. Eu frequentemente imaginava ele atravessando o saguão de mármore, subindo e descendo no antigo elevador "gaiola" que precisava de um operador, uma cena que trazia à vida a dignidade e a reserva do velho Guangzhou, repleta de detalhes vívidos. Infelizmente, eu ainda não havia nascido quando ele partiu, e essas imagens só consegui juntar através das histórias da minha mãe e de álbuns de fotos amareladas.
Na minha geração, o Edifício do Sul não era mais o local de trabalho respeitoso que meu avô mencionava, mas tornou-se um destino vibrante para as minhas saídas na juventude. No início dos anos 80, às vezes, nos dias de folga, meu coração voava para a beira do rio. Eu pulava naquele ônibus de nove centavos na porta da fábrica, balançando até descer na Rua 623, e então me juntava à multidão movimentada na entrada do Xihou, apressando-me para o Sul. Ao avistar sua figura robusta e estável à beira do Rio das Pérolas, meu coração finalmente se acalmava, como se um filho estivesse voltando para casa — essa expectativa era o começo mais alegre de toda a jornada.
Dentro do Sul, havia outro mundo de fumaça e fogo humano, barulhento e vibrante. O primeiro andar estava sempre lotado, com letreiros de néon brilhando acima, refletindo os produtos variados nos balcões de vidro. No ar, havia o cheiro do novo tecido, o perfume doce dos cosméticos, e o aroma de fritura dos dim sum que flutuava vagamente, tudo se misturando. O ar-condicionado estava forte, e ao entrar da calorosa rua, a sensação de frescor era como cair em um paraíso. Eu adorava passear pelos andares dois e três, onde as seções de roupas estavam repletas das "camisas legais" mais populares da época. Com minhas amigas, falávamos animadamente, lutando para chegar ao balcão entre a multidão apertada, com os dedos pressionando o vidro, apontando para os estilos que gostávamos, pedindo aos vendedores para tirá-los e experimentá-los. As vendedoras, sempre com a reserva típica das grandes lojas estatais, eram surpreendentemente ágeis, com o ábaco fazendo "clique-clique", emitindo notas, recebendo dinheiro e dando troco, tudo em um só movimento. Comprar uma "camisa de verdade" que eu gostasse ou uma calça boca de sino me deixava tão satisfeita que eu ficava feliz a semana toda. Uma vez, em um pequeno canto do segundo andar do Sul, eu realmente reuni coragem e gastei sete e meio, para que alguém usasse uma pistola fria e fizesse dois furos nas minhas orelhas. A dor me fez puxar o ar rapidamente, e minhas orelhas queimavam, mas o que recebi foram dois pequenos brincos dourados, quase invisíveis, cuidadosamente embrulhados em papel e entregues a mim — aquelas pequenas coisas do tamanho de ervilhas se tornaram a marca mais ousada e delicada da minha adolescência sobre "me embelezar". Agora, ao tocar minhas orelhas, parece que ainda há um resquício daquela ardência.
Quando chegou a hora de me casar e preparar a casa nova, o Edifício do Sul foi, naturalmente, nossa primeira escolha. Com meu marido, examinamos cuidadosamente os andares de roupas de cama, e finalmente nos decidimos por um cobertor de lã de raschel, grosso, macio e com um padrão elegante, dentro do Sul. O preço parecia alto na época, mas ao tocá-lo, a sensação de calor denso e aconchegante parecia capaz de nos aquecer durante todo o inverno. Nós decidimos comprá-lo. Esse cobertor, adquirido no Sul, se tornou o primeiro "grande" item da nossa nova vida. Na noite de núpcias, ele se ajustou perfeitamente ao meu corpo, e aquela suavidade única e nova envolveu nossas esperanças e calor para o futuro; agora, ao lembrar, meus dedos parecem ainda sentir aquela nova textura, a seriedade e o calor suave que pertencem ao início de uma nova fase da vida.
O tempo passou, os edifícios à beira do Rio das Pérolas cresceram cada vez mais altos, e as paredes de vidro brilhavam intensamente. Novos centros como o Novo Grande e o Guangbai abriram, oferecendo aos jovens mais lugares da moda. O Edifício do Sul, como um velho que passou por muitas dificuldades e caminha lentamente, parece ter perdido um pouco de seu brilho com o passar dos anos. Ao voltar ao Sul, às vezes sinto que as luzes lá dentro não são tão brilhantes quanto eu me lembrava, e a disposição dos produtos parece não ter mais aquele cuidado meticuloso de antes. Ao passar por balcões que costumavam estar lotados, vejo vendedoras apoiadas no queixo, olhando para a escassa movimentação na porta. A energia vibrante que antes preenchia cada canto, quente e cheia de vida, parece ter recuado silenciosamente, deixando apenas um eco vazio, ressoando no piso de mármore polido.
Nunca imaginei que aquele famoso e respeitado armazém, em 2005, se transformaria no Centro Internacional de Eletrônicos e Produtos Digitais do Edifício do Sul. O prédio inteiro parecia ter vestido uma nova roupa que não lhe servia, com balcões lotados de celulares, acessórios de computador e produtos eletrônicos, operando no atacado e no varejo. Ao entrar, o cheiro familiar de tecidos e perfumes foi rapidamente substituído pelo novo aroma de plástico e componentes eletrônicos. O ar-condicionado ainda estava forte, mas a sensação de surpresa de cair em um "paraíso de armazém" já não existia mais. A agitação ainda estava lá, mas a atmosfera única do velho Sul, que misturava a vida cotidiana e as esperanças, realmente se dissipou. O tempo passou, e até mesmo um marco tão significativo não pôde escapar do destino de se reinventar para sobreviver.
Agora, de pé na beira do rio, olhando para a brilhante Torre de Guangzhou do outro lado, e depois voltando a olhar para o silencioso Edifício do Sul ao meu lado, meu coração sempre se agita com sentimentos indescritíveis. Ele é como um enorme tijolo da cidade, profundamente embutido na fundação da minha vida. O som do "clique" do ábaco que meu avô fazia em seu escritório cheio de fumaça, segundo minha mãe, parece atravessar setenta anos de neblina, ecoando vagamente em meus ouvidos; a pressa de me espremendo no ônibus de nove centavos após o trabalho, a alegria de me perder nos balcões de roupas, a dor aguda de furar as orelhas e a pequena vaidade que se seguiu, o calor reconfortante do cobertor de raschel na minha lua de mel... Esses fragmentos de memória, todos guardados firmemente nas grossas paredes do Sul e nas escadas que se entrelaçam dentro dele.
O Edifício do Sul não é apenas um prédio. Ele é a testemunha silenciosa da vida do meu avô (embora eu só o conheça através das histórias da minha mãe), é o parque de diversões vibrante da minha juventude, e é o testemunho solene de um momento crucial na minha vida (o casamento). Dentro de suas pedras e tijolos, estão os tempos de duas gerações da minha família, as alegrias e a vida cotidiana mais simples. Não importa como sua aparência mude com o passar dos anos, ou mesmo se se transforme em um centro digital, aquele profundo sentimento, como as águas do Rio das Pérolas, flui através da fundação, permeando meu sangue, tornando-se uma memória de Guangzhou da qual não posso me desvincular — essa imensa estrutura, sempre com sua postura silenciosa e robusta, guarda minha cidade e também a mais profunda identificação e saudade do meu coração.
*Tabela de explicações do dialeto de Guangzhou (quinze itens):**
Um, **Sul:** Abreviação de "Edifício do Sul". Uma forma carinhosa de se referir a este edifício icônico pelos velhos guangzhouenses.
Dois, **Trabalhar como contador:** Envolver-se em trabalho contábil.
Três, **Trabalhar:** Trabalhar, fazer um trabalho.
Quatro, **Sair para comprar:** Passear, fazer compras.
Cinco, **Comprar:** Comprar coisas.
Seis, **Juventude:** Período da juventude.
Sete, **Nove centavos:** Refere-se ao preço da passagem de ônibus na época, que era de nove centavos de yuan.
Oito, **Descer do ônibus:** Sair do ônibus (especificamente de transporte público).
Nove, **Passos apressados:** Descrever passos apressados e apressados.
Dez, **Ver mais de perto:** Olhar mais de perto.
Onze, **Estilo que gosto:** Algo que me agrada, que eu gosto.
Doze, **Embelezar:** Se arrumar, se tornar bonita.
Treze, **Cobrir:** (verbo) Cobrir, envolver. Por exemplo, "cobrir com um cobertor".
Quatorze, **Apertado:** Lotado, apertado.
Quinze, **Morder os dentes:** Tomar uma decisão firme, enfrentar dificuldades (geralmente se referindo a enfrentar dificuldades ou grandes despesas).