Este é o período em que o Japão quase se fechou completamente ao mundo exterior, vivendo por mais de 200 anos sob uma política chamada Sakoku ou Bloqueio Nacional. Então, por que o Japão escolheu esse isolamento? Como era a vida das pessoas naquela época? Elas estavam realmente completamente isoladas? E o que fez do Japão um lugar ao mesmo tempo único, tradicional e misterioso nesse período? Esse foi o período Edo.
Antes do início do período Edo, o Japão estava mergulhado em um período chamado Sengoku, uma fase de guerra civil que durou mais de um século, onde os senhores feudais lutavam incessantemente pelo poder. Em 1603, Tokugawa Ieyasu, um estrategista genial, unificou o Japão e se tornou Shogun, o comandante militar mais poderoso à frente do xogunato Tokugawa. Mas a unificação do país foi apenas o primeiro passo. Ele e seus sucessores enfrentaram um grande desafio: como manter o poder e garantir a segurança a longo prazo. A resposta deles foi o Sakoku, a política de fechamento do país.
Mas por que eles escolheram esse caminho?
Nos séculos 16 e 17, países ocidentais como Portugal, Espanha e Países Baixos começaram a chegar ao Japão. Eles trouxeram mercadorias, armas, especialmente armas de fogo e também o cristianismo. Inicialmente, o cristianismo foi aceito por alguns senhores feudais e pela população, especialmente no sul do Japão. Mas o xogunato viu o perigo de que o cristianismo não era apenas uma religião, mas também uma ferramenta para os países ocidentais expandirem sua influência política. Se a população se convertesse em massa, a lealdade ao xogunato poderia ser abalada. Além disso, os missionários geralmente vinham acompanhados de comerciantes e exércitos, um cenário que o xogunato não queria repetir.
Em 1635, o xogunato promulgou um decreto proibindo o cristianismo e expulsando a maioria dos estrangeiros. Quem não obedecesse enfrentaria consequências severas. Os cristãos foram perseguidos, sendo o mais famoso o levante de Shimabara, onde dezenas de milhares de cristãos foram massacrados. Depois disso, a política Sakoku foi endurecida como nunca antes. Juntamente com isso, o xogunato queria construir uma sociedade estável, onde tudo fosse rigidamente controlado. Eles temiam que o comércio livre com o exterior enriquecesse os senhores feudais locais, tornando-os mais poderosos e capazes de desafiar o poder central. Em particular, as armas de fogo do Ocidente representavam uma revolução.
Se os senhores feudais possuíssem muitas armas modernas, o risco de uma nova guerra civil aumentaria. Fechar o país ajudou o xogunato a controlar o fluxo de armas, mercadorias e informações. O século 17 foi um período em que os países ocidentais expandiram suas colônias por toda a Ásia. As Filipinas foram ocupadas pela Espanha. O Sudeste Asiático caiu nas mãos dos holandeses, os britânicos em parte, e o xogunato viu o perigo. Se abrisse as portas sem controle, o Japão poderia se tornar uma presa para os impérios. O fechamento era uma forma de se proteger, pelo menos até que se tornassem fortes o suficiente para enfrentar. Mas fechar não significava isolamento total.
O Japão ainda mantinha alguns canais de comércio pequenos, principalmente através do porto de Nagasaki, onde apenas os holandeses e chineses eram autorizados a negociar. Isso nos leva à próxima pergunta. Como era a vida das pessoas no período Edo depois que o país quase se desconectou do mundo? Imagine que você é um japonês dos séculos 17 e 18. Seu país quase não interage com o mundo exterior. A vida é entediante? A resposta é absolutamente não.
O período Edo é uma das fases mais interessantes da história do Japão, com uma sociedade bem organizada, uma cultura muito desenvolvida e histórias cotidianas cheias de cores. Este é o período em que o Japão foi organizado sob um sistema chamado Shinokoso, ou seja, uma hierarquia social muito rígida, semelhante a uma pirâmide gigante. No topo estão os samurais, que representam cerca de 5 a 7% da população. Os samurais não eram apenas guerreiros valentes com espadas em mãos, mas, durante esse período, também desempenhavam papéis como funcionários, professores ou até poetas. Eles tinham permissão para portar duas espadas, símbolos de status, mas suas vidas nem sempre eram glamourosas.
Muitos samurais pobres dependiam de subsídios de seus senhores feudais e às vezes precisavam fazer trabalhos paralelos, como escrever. Em seguida, vêm os agricultores. Os agricultores representam a maior parte da população, cerca de 80%. Eles são a espinha dorsal da sociedade, pois produzem arroz, o recurso mais importante. No entanto, os agricultores enfrentam pesados impostos, às vezes chegando a 40-50% da colheita. Eles estão presos à terra, sem liberdade de movimento, e suas vidas geralmente giram em torno do ciclo agrícola. Abaixo dos agricultores estão os artesãos. Eles produzem produtos artesanais, como cerâmica, tecidos, móveis ou objetos de metal.
Os artesãos em grandes cidades como Quioto eram famosos por suas técnicas refinadas, desde leques de papel até quimonos elaborados. E, finalmente, os comerciantes. Embora sejam classificados como a camada mais baixa na hierarquia, eles eram os mais ricos. Os comerciantes em grandes cidades como Edo e Osaka acumulavam enormes fortunas através do comércio, empréstimos e negócios. Muitos samurais até precisavam pegar dinheiro emprestado deles, levando a uma subversão silenciosa na sociedade. Além das quatro classes principais, havia grupos considerados marginalizados, como os Eta, que realizavam trabalhos impuros, como curtir peles, e os Hinin, que eram sem-teto, criminosos ou vagabundos. Essas pessoas eram marginalizadas pela sociedade, vivendo em áreas separadas, mas também contribuíam para a diversidade do período Edo, onde o xogunato controlava a sociedade por meio de um sistema rigoroso de regras.
Por exemplo, cada classe tinha que usar roupas específicas, sem ultrapassar os limites. Um agricultor que ousasse usar um quimono de seda como um comerciante? Poderia ser severamente punido. Esse sistema garantia a ordem, mas também gerava descontentamento, especialmente nas classes mais baixas. A maioria da população japonesa durante o período Edo vivia no campo, em pequenas aldeias cercadas por campos de arroz e montanhas. Suas vidas giravam em torno da agricultura, principalmente do cultivo de arroz e feijão. Um dia na vida de um agricultor começava ao amanhecer, quando eles iam para o campo trabalhar, e terminava ao pôr do sol. As casas eram geralmente simples, feitas de madeira, com telhados de palha e uma lareira no meio para aquecer e cozinhar. Embora a vida rural fosse pacífica, os agricultores enfrentavam grande pressão devido aos impostos.
O xogunato e os senhores feudais cobravam impostos em arroz, deixando as famílias com apenas o suficiente para sobreviver. Às vezes, quando havia uma colheita ruim ou os impostos eram muito altos, os agricultores se revoltavam, mas essas revoltas eram geralmente rapidamente reprimidas. Se o campo era um lugar tranquilo, as grandes cidades como Edo, hoje, ou Osaka e Quioto eram centros vibrantes e movimentados. Edo no século 18 era uma das cidades mais populosas do mundo, com mais de 1 milhão de habitantes.
As pessoas dessa época sabiam como aproveitar a vida, apesar de estarem sujeitas a muitas regras; o entretenimento era uma parte essencial, desde grandes festivais até prazeres simples. A religião também desempenhava um papel importante na vida do período Edo. O xintoísmo e o budismo eram as duas principais religiões que frequentemente se entrelaçavam na vida cotidiana. Cada aldeia tinha um santuário xintoísta para orar pela paz, e os templos budistas eram locais para funerais ou orações. O xogunato incentivava as pessoas a se registrarem em um templo para controlar a população e impedir o cristianismo.
Embora fosse uma sociedade fechada, o Japão do período Edo valorizava muito a educação.
Os samurais aprendiam caracteres chineses, confucionismo e artes marciais. A taxa de alfabetização no Japão durante o período Edo era muito alta em comparação com outros países, especialmente nas áreas urbanas. Apesar de estar fechado, o Japão ainda absorvia conhecimento do Ocidente através do Rangaku, ou seja, o aprendizado holandês. No porto de Nagasaki, estudiosos japoneses estudavam livros da Holanda sobre medicina, astronomia, mapas e engenharia. Por exemplo, eles aprenderam a fazer telescópios, estudaram anatomia humana e aplicaram algumas técnicas militares. Isso ajudou o Japão a não ficar para trás, embora mais lentamente do que o Ocidente. Mas a vida no período Edo nem sempre foi cor-de-rosa.
Além dos pesados impostos, as pessoas também enfrentavam desastres naturais, como terremotos, erupções vulcânicas e incêndios. Edo foi destruída por muitos grandes incêndios, como o grande incêndio de Meireki em 1657, que queimou mais da metade da cidade. A fome também ocorria quando as colheitas falhavam, levando muitos agricultores a uma situação desesperadora. Assim, a política de fechamento trouxe muitos benefícios, mas também tinha grandes limitações. A vantagem era a paz duradoura. O período Edo foi uma das raras fases em que o Japão não teve guerras. O xogunato Tokugawa manteve a ordem por mais de 200 anos, uma conquista considerável.
Além disso, o desenvolvimento cultural com a estabilidade e o fechamento também ajudou o Japão a evitar o destino de se tornar uma colônia como muitos outros países asiáticos. Mas a desvantagem foi o atraso tecnológico. Enquanto o Ocidente passava pela revolução industrial, o Japão praticamente estagnou em termos tecnológicos. Quando a frota de Perry chegou, o Japão percebeu o quão fraco era. Em 1853, a frota negra do almirante Perry dos EUA chegou à baía, exigindo que o Japão abrisse o comércio. O xogunato, com seu poder militar fraco, foi forçado a assinar o tratado de Kanagawa, encerrando a política de fechamento. Este evento marcou uma grande virada que levou à queda do xogunato e abriu a era da Restauração Meiji, quando o Japão modernizou-se rapidamente para alcançar o Ocidente.